Oi Casamenteiras, tudo bem?

O que me motivou a escrever esse texto foi ler desabafos desesperados de mulheres igualmente desesperadas em um grupo de mães que eu faço parte no Facebook. Por estarem desempregadas ou com o orçamento da família apertado devido a evidente crise que o nosso país está atravessando, essas mães estão à beira de um colapso por não poderem dar um presente “bacanudo” de dia das crianças para seus filhotes.

Esses desabafos daqui até o final do ano, com Natal chegando, devem apenas se intensificar.

Lá no grupo tem de tudo, desde mães de bebês com meses de vida, que nem sabem que o dia das crianças existe, até mães de crianças mais velhas que já esperam ansiosos pelo seu mimo no dia 12 de outubro. E é aí, nesse grupo, que eu vejo as mais desesperadas.

Dollarphotoclub_84871442 O consumismo e a infância

Fiquei pensando nisso e me colocando na situação dessas mulheres, o que eu faria?

Meus filhos tem dois anos, ainda não sabem quais são as datas comemorativas em que as crianças ganham presentes. Aniversário eles já se ligaram que tem presente envolvido, mas só. Eles fizeram aniversário agora em Agosto, e eu já peguei dois presentes de cada um e separei um para o dia das crianças e um para o Natal. Eles ganharam tanta coisa, que nem se quer sabem da existência dos presentes que eu separei, e honestamente, se eu não der nada de dia das crianças ou Natal eles também não irão perceber.

Agora e as crianças mais velhas? O que será que vale mais a pena? Apertar o orçamento da família e comprar um presentão, ou conversar e explicar que a mamãe e o papai não tem dinheiro para comprar o que ele quer? Qual a mensagem que cada situação passa para as crianças?

Na primeira, passamos a mensagem de que a prioridade é o brinquedo, é mostrar para os amiguinhos e para os pais desses amiguinhos que temos dinheiro e está tudo bem. Ostentar uma situação insustentável é melhor do que “passar vergonha” por chegar na escola e dizer que ganhou um carrinho Hot Wheels de R$8,90 de dia das crianças. O adulto resultante dessa situação será um adulto que nunca se conformará com o que tem e viverá sofrendo por isso, será um adulto que não saberá analisar prioridades, não terá noção do real valor das coisas.

Eu sinto que criança não tem maturidade para lidar com todas as situações do mundo dos adultos de forma nua e crua como nós adultos temos que enfrentar, mas falar a verdade e apresentar a realidade é sempre o melhor caminho.

Na segunda situação, você fala a verdade, explica que não tem dinheiro para aquele super presente bacana, e diz que existem outras prioridades como alimentação, escola, moradia, saúde. Talvez você tenha que gerenciar um chilique, mas a mensagem que você estará passando, será uma mensagem que irá formar um cidadão consciente, que viverá uma vida de verdade, dentro de suas possibilidades e feliz com o que tem.

Criança não precisa de presentes caros. Tenho convicção disso.

Uma vez, meu pai estava me levando para a escola, eu tinha 6 anos, e do nada eu disse que estava com muita vontade de ir para a praia. O comentário foi super genuíno, sem segundas intenções, me deu vontade mesmo. Na hora ele parou o carro do lado de um orelhão (não existiam celulares na época), fez umas duas ou três ligações, entrou no carro e mudamos a rota. Adivinhem? Estamos indo para a praia! Foi um dos dias mais felizes da minha vida, chegamos na praia e ele comprou um maiô para mim, uma sunga para ele, uma toalha para dividirmos e protetor solar, com isso ele me proporcionou uma das melhores lembranças que eu tenho! Agora me perguntem o que eu ganhei de dia das crianças naquele ano? Ou de Natal? Eu não faço a menor ideia, mas eu faltei na escola e fui para a praia com o meu herói em pleno dia de semana, só nós dois, e isso eu nunca vou esquecer.

Dollarphotoclub_91424894 O consumismo e a infância

Sejam criativos, um pique-nique caprichado, um dia de rei ou rainha, com direito a coroa, café da manhã na cama e a criança pode fazer tudo o que quiser no dia, um bate volta na praia, na represa, na casa daquele amigo que tem piscina, um dia inteirinho comendo doce, brincar de torta na cara com chantilly, fazer brinquedos de papelão, fazer bolos, tortas e cookies todo mundo junto, jogar bola até cair de cansaço no chão, ir ao parque, sair todo mundo na rua de fantasia, montar uma peça de teatro, pintar um quadro, acampar, sair da cidade para ver as estrelas, tem tanta coisa legal que não envolve marcas, muito dinheiro ou ostentação de nada, a única marca que você deveria se preocupar é com a que você faz no coração do seu filho. Quantos momentos seu filho já teve com você que ele irá lembrar pela vida toda como esse meu dia na praia com o meu pai? Quem será o seu filho quando adulto? Será um adulto frustrado por querer ter tudo e não conseguir ou será uma pessoa consciente das prioridades da vida e feliz com o que conquista a cada dia?

Haverá um dia em que deveremos deixar de ser as crianças que sempre fomos, deixar as ilusões de lado e encarar a vida hostil, tal qual ela se apresenta. A isso eu chamo de Educação para a Realidade. – Freud

Beijos,

Kaká