Algumas dúvidas se fazem hóspedes vitalícios em meu coração. Uma das grandes perguntas que tenho feito é: O que faz com quem duas pessoas decidam para sempre ficar juntas?
Dentro das várias possibilidades de respostas, uma se sobressai no meu coração. Devo admitir que acredito mesmo em uma espécie de “corda” que nos liga entre si e também nos atrai continuamente um ao outro.
Não acredito em destino também. Já parou para pensar a quantidade de possibilidades de encontros que o mundo nos dá na vida? Qual é a chance de encontrarmos uma pessoa certa para nos tornar “nós” durante os trajetos da vida?
A maioria das pessoas procuram entender o mundo simplesmente como uma sequência de acontecimentos desordenados que compõem casualmente os caminhos que nos levam um ao outro. Particularmente, também não tenho tanta fé assim. Não acredito que existem apenas um pessoa que corresponde a outra no universo, mas sim que o amor é uma união entre as oportunidades e as decisões de amar um ao outro.
Hoje, sou realmente grato por ter encontrado alguém que aceitou este desafio de ser um só comigo. A vida que levamos juntos é o que me faz não desencantar com a realidade tão nua e crua apresentada por este mundo. O amor ainda é uma esperança viva.
Demorou, mas aprendi que não há desculpas para amar alguém. A gente ama e pronto. Passamos bastante tempo procurando certezas, pedindo aos céus um pouco mais de clareza nos sentimentos, e com isso, acabamos esperando, sem querer, alguma garantia para evitar que quebremos a cara, para então, só assim, investir em um relacionamento. Bobagem. Amar é necessário, mas não é possível vivê-lo sem evitar consequências naturais de uma vida a dois.
Uma outra pergunta que venho fazendo é porque parece que existe na maioria de nós um desejo pela união, se hoje existem muitas outras possibilidades de relacionamentos? Bem, a resposta mais óbvia é que, por mais que nos esforcemos, não conseguimos pertencer a mais de uma pessoa numa entrega mútua e íntegra. O amor exige certa exclusividade.
O amor é realmente esse desejo, porém, ultimamente, estamos amando e desamando com um velocidade tão assustadora que o conceito de amar também já se tornou banal. Sem contar, as inúmeras pessoas que até se amam, mas que não conseguem conviver entre si por puro egoísmo, por não querer se rebaixar ou até mesmo por um motivo social boboca como priorizar a carreira, e acabam deixando tudo para trás para não ter que abrir mão desse algo em nome de um amor.
O fato é que precisamos definir melhor o que sentimos. No tempo em que vivemos, as palavras amor, paixão e desejo acabam perdendo seus significados e as vemos como se fosse a mesma coisa.
Gosto de perceber a união entre duas pessoas como um modelo indissolúvel, creio mesmo que precisamos realmente aprender com os modelos mais tradicionais. A separação, para eles, não vem pela conveniência, mas sim pela falta expressa de objetividade comum.
Nossos avós se separavam menos que nós, não só porque eles escolhiam insistir maisque a gente diante dos problemas, mas porque eles sabiam que um dependia do outro para fazer a coisa acontecer. Além disso, eles não acreditavam nesta divisão entre, família, trabalho, relacionamento e tempo como prega o nosso catecismo cotidiano. Para eles, todas estas coisas andavam juntas.
Nesse sentido, casar-se não era um teste para ver se duas pessoas podiam ficar juntas ou não, eles simplesmente se uniam para amar e ser amadas. Amar não tinha a ver com paixão arrebatadora dessas que vemos nas novelas, nem tampouco com sexo insano de final de semana que procuramos ter em cada uma das aventuras amorosas que nos enfiamos.
Deixamos de procurar companheirismo, amizade, parceria para continuar apenas investindo em experiências pela busca de se embebedar de prazer sem fim. Não queremos mais voltar para casa no fim do dia e ser recebido pelo amado, preferimos os lugares barulhentos e agitados das multidões, não queremos mais ombros para nos apoiar, mas corpos inteiros para consumir e jogar fora no outro dia, não queremos mais palavras sinceras de amor, queremos apenas um “bom dia” no dia seguinte e um “até logo” quando a porta fechar, não queremos mais um colo para descansar, mas sim um número de transas para contabilizar e contar aos amigos.
Agradeço a Deus por ter superado isso. Por que sei que pior que possa ficar a vida, terei sempre o mesmo abraço para me esmagar. Creio mesmo que nenhuma união consegue viver sem amor, mas também, nenhum amor consegue viver sem união. O que passar disso é ilusão que o amanhã vai revelar.